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Roadtrip: La garantia soy yo/Highway to Hell!!! (Part VI)

Cheguei em Foz do Iguaçu pouco antes do almoço, os 145 quilômetros que separam Cascavel de Foz do Iguaçu são um passeio no parque, pista praticamente inteira duplicada e com asfalto novo, dá vontade de sentar o pé e fazer esse trecho em 60 minutos, mas com a quantidade de pardais no caminho fica totalmente impossível.

Honestamente não me lembro se almocei esse dia, mas acho que não, procurei um hotel próximo a Ponte da Amizade que separa Foz do Iguaçu no Brasil de Ciudad del Este no Paraguai. Não há nenhum que preste, ou seja, não dá pra chegar a pé na ponte. O mais próximo fica uns 4 ou 5 km e é um verdadeiro lixo. Fiquei em um a cerca de 6 - 8 km, era semi-novo, mas altamente tosco, nada funcionava direito no quarto, o banheiro era meio sujo e a roupa de cama de péssima qualidade, fazia um baita sol no domingo e acabei ficando no quarto e pegando no sono assistindo programas toscos de auditório.

A cidade de Foz do Iguaçu é feia, muito feia, a sensação que eu tenho é que já estava no Paraguai. Faz muito calor e é tudo muito sujo, e quanto mais perto se chega da fronteira, mais sujo é. Pensei em ficar uns 2 ou 3 dias e visitar as cataratas do Iguaçu (que me lembro serem fantásticas quando eu visitei aos 12 anos de idade), mas não deu certo. Acordei no início da noite e procurei um restaurante legal para rangar na internet, fui comer camarão pois tava com vontade. Na rua não tinha ninguém e no restaurante apenas eu, que merda de cidade vazia e feia eu não parava de pensar comigo mesmo, resolveria o que tinha vindo fazer no Paraguai na segunda, terça visitaria as cataratas e quarta de manhã partiria para outro rumo, se tudo desse certo provável que fosse em direção a Sampa para voltar pela velha e conhecida estrada.

Depois do jantar voltei pro quarto e fiquei batendo punheta, nos sites de acompanhante não tinha nada que prestasse, e os inferninhos da cidade não estavam abertos no domingo, pensei em visitá-los segunda a noite para mais uma rodada de putas gostosas. Demorei para dormir devido a tarde de sono e acordei tarde, me arrumei e rumei para a Ponte da Amizade (que divide Brasil e Paraguai), estacionei meu carro próximo pois não queria atravessar com ele, estava um sol causticante e irritante. Do outro lado começaram as ofertas, de um lado alguém me perguntava se eu queria tênis importado ou eletro-eletrônicos, do outro um discreto perguntava se eu gostaria de escama-de-peixe e afins.

De repente um brasileiro se aproximou e perguntou: "E aí, tá afim de escama-de-peixe?". Eu disse que não e continuei andando, então ele me ofereceu viagra e psicotrópicos afins, neguei novamente e ainda andando ele me perguntou se eu queria umas minas paraguaias da melhor qualidade, recusei mas parei para ver o que mais ele ofertaria, ofereceu então o que eu queria, perguntei onde era e saímos andando por lojinhas vagabundas (apesar de que eu achava que todas as lojinhas daquele local eram vagabundas) até que chegamos. Um paraguaio com cara de art. 171 me mostrou o produto e eu perguntei se ele teria outras variantes, ele disse que sim e falou seu preço, nessa hora eu devia ter sido esperto, buscado minha mochila no hotel e negociado na loja mesmo, mas não fui, ingênuo, aceitei a carona do comparsa dele que me levou até o hotel para buscar a grana, subi, peguei a bufunfa e voltamos ao Paraguai. A conversa dentro do carro era tranquila (me ofereceram para conhecer um puteiro Paraguaio de noite e eu me animei, afinal de contas, Puteiro é minha casa!) e eu achei que a presença do brasileiro com a gente era alguma garantia de sucesso na empreitada. Nisso ele começa a passear e um cara numa moto deixa o produto para que eu avaliasse, era exatamente o que eu queria, mas o foda é que o cara ficava dando voltas naquela porra daquela cidade excrota e eu fui ficando tenso. O bagulho no carro e nada da gente chegar em algum lugar seguro para finalizar a negociação.

Descemos uma rua e o pior dos meus medos se tornou realidade, havia uma blitz da policia e solicitou que nós parássemos. Quase um ano depois olho para trás e acredito totalmente que aquilo tudo foi armação para ficar com a minha grana, pois o que se passou daí em diante foi surreal. O policial entrou no carro e fomos todos para uma casa caindo aos pedaços, disseram que ali era a delegacia de polícia, acreditei, afinal de contas estava no Paraguai e lá tudo é um lixo! Revistaram o carro e encontraram a ilegalidade, fizeram várias perguntas típicas de cana e levaram a gente para um quarto onde havia um "policial civil" (a meu ver os outros eram militares) que ficou batendo no paraguaio. O problema é que a surra que ele tava levando parecia encenada, tipo aqueles "telecatch" mal feitos das antigas.

Mesmo assim eu tava no cagaço. E o policial militar que levou a gente pra lá viu minha carteira, ficou meio assustado sem entender o que eu era, resolveu conversar comigo na boa enquanto o civil ficava ameaçando (típica cena "good cop" vs "bad cop"). Tentei permanecer calmo e dizer que só falaria algo na presença de um advogado e dizendo que não sabia nada daquilo. A cena foi se desenrolando e eu só pensava nas matérias de jornal: "Brasiliense é preso no Paraguai por blá blá blá blá...". Permaneci calmo enquanto o civil continuava "batendo" no paraguaio, e eu continuava achando aquilo meio falso, o brasileiro que estava com a gente parecia assustado. Me revistaram e viram que eu tinha cerca de 4 pila no bolso, pensei rápido e ofereci a grana pro good cop. Ele deu uma de durão no começo, disse que não era esse tipo de policial mas pouco depois a coisa foi mudando de quadro. Expliquei que estava comprando o produto para legalizado no Brasil, pois assim era mais barato, e acho que nesse momento perceberam que eu era peixe pequeno.

Enquanto isso o bad cop continuava ameaçando e percebeu que eu estava tentando mandar uma propina pra me livrar daquela situação, nisso o militar saiu e disse que "resolveria" minha situação com o delegado. Claro que ele só foi lá fora dar um tempo e voltou perguntando se eu não tinha mais. Falei que tinha no hotel e ele sabia, se eu cruzasse a fronteira, não me veria nunca mais, acabou aceitando os 4 pila.

Antes de me tirar do quarto o civil ainda encenou mais umas bolachas no paraguaio (parecia muito armação, mas ali, na hora, claro que achei que era real e tava num cagaço infinito). O militar me levou para um carro particular (sem nenhuma característica da polícia) que não deu partida, foi uma eternidade até acharem um carro que tivesse uma bateria funcionando enquanto eu escutava as "porradas" que supostamente o paraguaio levava. O good cop mencionou que o bad cop era doido e eu tentei ser o mais simpático possível. Fomos embora, deixei a propina e atravessei a ponte. Ainda assim não achei que tivesse safo, fui correndo pro hotel, devo ter colocado mais de 100km/h num trecho que mal dava 60km/h e suando feito marginal, subi, arrumei as minhas coisas o mais rápido possível (pois o paraguaio sabia onde eu estava hospedado), paguei a conta e me mandei.

Meio que sem rumo, ainda decidindo para onde iria, fui embora, um pouco mais pobre, mas completamente aliviado que não estava mais naquele inferno chamado Ciudad del Este.

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